Mãe de aluna celíaca denuncia escola por dificultar envio de lanche especial; prefeitura nega
A mãe de uma estudante da rede pública de Araucária (PR), na região metropolitana de Curitiba, afirma que a escola onde a filha estuda tem dificultado o envio e o consumo dos alimentos preparados especialmente para ela. A menina, de 9 anos, tem doença celíaca e precisa seguir uma dieta rigorosa sem glúten, condição que a escola, segundo a mãe, não tem respeitado adequadamente. A prefeitura, no entanto, nega as acusações.
Embora a escola ofereça refeições adaptadas para celíacos, Tayrine Novak — mãe da aluna — afirma que a filha já passou por episódios de contaminação cruzada na unidade, o que representa um sério risco à saúde da criança. Desde então, Tayrine prefere preparar e enviar os alimentos de casa.
📌 A doença celíaca é uma condição autoimune que provoca uma reação do sistema imunológico ao glúten, presente em cereais como trigo, cevada e centeio. O único tratamento é uma dieta 100% livre dessa proteína.
Repercussão nas redes
O caso ganhou notoriedade após Tayrine divulgar trechos de uma reunião com representantes da Secretaria de Educação nas redes sociais. Durante o encontro, ela foi questionada sobre os alimentos enviados na lancheira da filha — em especial, bolos com cobertura, que estariam “chamando a atenção” de outras crianças.
Em um dos vídeos, o chefe de gabinete da Secretaria de Educação, Eduardo Schamne, lê uma reclamação feita à Ouvidoria por outra mãe, que relatou que o filho “fica com vontade” ao ver o lanche da colega celíaca. Segundo a queixa, o menino gostaria de experimentar os bolos, mas a colega explica que não pode dividir a comida por motivos de saúde.
“Entendi que tem questões de saúde, mas e as outras crianças?”, escreveu a mãe na reclamação. “Sou assalariada e mãe solo. Nem tudo que ele vê eu posso comprar.”
Tayrine justificou que opta por fazer bolos caseiros como alternativa econômica e segura ao pão sem glúten, que tem custo elevado. “A gente não é rico. O que sai mais barato para mim é bolo. Então eu faço bolo de cenoura, de fubá, de cacau”, explicou durante a reunião.
Posicionamento da prefeitura
Em nota, a prefeitura de Araucária afirmou que os pais que optarem por enviar alimentação de casa devem seguir um cardápio semelhante ao da escola, com base na lei municipal 4.513/2024, que visa promover a inclusão alimentar. A Secretaria de Educação disse ainda ter oferecido a possibilidade de Tayrine retirar os alimentos da escola para preparar em casa, proposta que foi recusada por ela.
Durante a reunião, uma das representantes da secretaria chegou a sugerir que, em dias de maior diferença entre os cardápios, a aluna almoçasse em casa e retornasse à escola em seguida.
O chefe de gabinete da secretaria afirmou que a rede municipal atende normalmente outros dez alunos com doença celíaca e que a situação da filha de Tayrine se destaca pela recusa em seguir as alternativas oferecidas.
“O lanche é banana, ela manda pitaia. O lanche é maçã, ela manda morango e kiwi”, disse Schamne. “A escola fica numa área de alta vulnerabilidade, e as outras crianças se sentem impactadas.”
Apoio jurídico e medidas legais
Após a repercussão, Tayrine recebeu apoio dos advogados Daniel Kaefer e Eduardo Kivel, que consideraram a reunião “absurda e constrangedora”. Eles afirmam que vão apresentar uma representação administrativa às autoridades municipais e levar o caso ao Ministério Público. Também não descartam ações judiciais.
“Houve violação da dignidade da pessoa humana, do direito à educação, à saúde, da proteção integral da criança e da autonomia familiar — todos direitos assegurados pela Constituição”, afirmou Kivel.
A escola em questão funciona em tempo integral e oferece café da manhã, almoço e lanche da tarde para os alunos.
Fonte: Redação