Foxconn entra na disputa global de IA com modelo de código aberto

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The logo of Foxconn is seen outside the company's building in Taipei, Taiwan November 10, 2022. REUTERS/Ann Wang/File Photo Purchase Licensing Rights

A Foxconn, maior fabricante de eletrônicos do mundo e responsável pela montagem dos iPhones da Apple, anunciou nesta segunda-feira (10) seu primeiro modelo de linguagem em grande escala (LLM), o FoxBrain.

Com essa iniciativa, a gigante taiwanesa busca ganhar relevância no cenário global de inteligência artificial, atualmente dominado por empresas como OpenAI, Google e modelos chineses como o DeepSeek. No entanto, sua abordagem prioriza eficiência computacional e código aberto, refletindo tanto ambições tecnológicas quanto estratégias geopolíticas.

Desenvolvido com base na arquitetura Meta Llama 3.1, o FoxBrain foi projetado para aplicações internas, como análise de dados, suporte a decisões e geração de código, com foco em matemática e raciocínio lógico. Embora a empresa reconheça que seu modelo ainda não supera o DeepSeek, líder chinês em LLMs, afirma que o desempenho está “muito próximo dos padrões líderes mundiais”. Segundo o Dr. Yung-Hui Li, diretor do Centro de Pesquisa de IA da Foxconn, o diferencial está na metodologia: “Focamos na otimização do treinamento em vez de simplesmente acumular poder computacional”.

Eficiência como resposta à escassez de chips

A Foxconn adotou um processo de treinamento mais ágil e econômico, utilizando o supercomputador Taipei-1, em parceria com a Nvidia. Essa escolha não é aleatória: com o mercado global enfrentando escassez de semicondutores e sanções à China, Taiwan busca se consolidar como polo de inovação em IA sem depender exclusivamente de hardware massivo. O FoxBrain, por exemplo, usou a rede Quantum-2 InfiniBand da Nvidia para acelerar o processamento, fortalecendo ainda mais a relação entre a Foxconn e a empresa de Jensen Huang, cujos servidores são montados pela fabricante taiwanesa.

Além disso, a decisão de tornar o FoxBrain um modelo de código aberto é estratégica. Ao disponibilizá-lo publicamente, a Foxconn segue uma tendência já adotada por empresas chinesas como a DeepSeek, que buscam influência no setor de IA ao compartilhar suas tecnologias. “Isso mostra que o talento tecnológico de Taiwan pode competir com players globais”, declarou a empresa em comunicado, em um claro posicionamento frente à rivalidade com a China.

Geopolítica e a disputa por padrões tecnológicos

A ascensão de LLMs asiáticos, como o FoxBrain e o DeepSeek, faz parte de uma disputa maior por hegemonia na inteligência artificial. Enquanto os EUA focam em modelos fechados e proprietários, como o ChatGPT, China e Taiwan apostam em ecossistemas abertos para impulsionar a adoção industrial e estabelecer novos padrões regionais. Para a Foxconn, a meta é integrar IA às cadeias de suprimentos, otimizando processos e atraindo parceiros globais.

Entretanto, especialistas alertam que o modelo taiwanês ainda não possui a escala necessária para competir diretamente com investimentos chineses. A DeepSeek, por exemplo, já domina setores como finanças e saúde na Ásia, com modelos treinados em vastos bancos de dados – um diferencial que o FoxBrain ainda não alcançou. “A eficiência é um ponto forte, mas sem dados diversificados e aplicações concretas, há o risco de o modelo ficar restrito a nichos”, analisou um especialista citado pelo Valor Econômico.

O lançamento do FoxBrain acontece em um momento crucial para a Foxconn, que busca diversificar suas operações. Além de expandir sua divisão de veículos elétricos, a empresa quer reduzir sua dependência da Apple, responsável por 50% de sua receita. O investimento em inteligência artificial não apenas abre novas fontes de faturamento, mas também reforça Taiwan como um contraponto à China na corrida tecnológica – ainda que ambas as economias continuem interligadas.

Fonte: Redação

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