Pesquisadores desenvolveram um antiveneno inovador, capaz de neutralizar os efeitos de 19 espécies de cobras venenosas, a partir de anticorpos encontrados no sangue de Tim Friede — um autodidata que passou quase duas décadas se injetando com venenos para desenvolver imunidade.
O estudo é liderado pelo imunologista Jacob Glanville, que conheceu Friede em 2017, após ler reportagens sobre sua inusitada resistência a picadas de serpentes como najas, mambas e cascavéis. Embora Friede tenha sido tratado inicialmente como um caso sensacionalista, Glanville enxergou um potencial científico único em seu sistema imunológico.
Friede aceitou doar 40 mililitros de sangue para que os cientistas pudessem estudar seus anticorpos. Oito anos depois, a equipe publicou os resultados de um antiveneno promissor, composto por três elementos principais:
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Dois anticorpos isolados do sangue de Friede, capazes de neutralizar neurotoxinas de diferentes espécies.
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O medicamento varespladib, que inibe uma enzima presente em 95% das picadas de cobras venenosas.
Em testes realizados com camundongos, o coquetel ofereceu 100% de proteção contra 13 espécies e proteção parcial contra outras seis.
Atualmente, os soros antiofídicos são produzidos a partir do sangue de cavalos, o que pode provocar reações alérgicas em pacientes. Os pesquisadores acreditam que a nova fórmula, se aprovada para uso clínico, poderá reduzir esses efeitos colaterais, além de ampliar a eficácia contra múltiplas espécies.
O estudo focou em serpentes da família dos elapídeos, como taipans, mambas e najas. A equipe agora investiga se a tecnologia pode ser adaptada para combater venenos de viperídeos, como cascavéis e víboras-de-escama-serrada.
Os cientistas também planejam testes de campo na Austrália — onde há apenas elapídeos —, para avaliar a eficácia do soro em cães picados por cobras. Além disso, estudam a viabilidade de criar um antiveneno universal ou dividir o tratamento em duas versões específicas, dependendo das espécies predominantes em cada região.
Fonte: Redação